quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O nosso cotidiano na web.


12/02/2013 - 05h00

Aplicativos e câmeras da moda incentivam 'hiperdocumentação' do cotidiano na web

GIULIANA DE TOLEDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Você sabe o que seus amigos fizeram no verão passado -- e neste também. É só entrar em qualquer rede social para ser bombardeado por dias ensolarados, asas de avião e drinques na praia.


O hábito de registrar tudo --das férias à ida ao restaurante-- ganhou força com a popularização dos smartphones e de aplicativos que "filtram" e dão mais cores à realidade. É a "hiperdocumentação" do cotidiano.

O que motiva os "instagramers" (usuários da rede social de compartilhamento de imagens) é o desejo de ser valorizado socialmente, segundo o psicólogo Cristiano Nabuco, do Hospital das Clínicas de São Paulo. "As pessoas abrem mão da sua privacidade em troca de um afago na cabeça, que é representado pelo curtir", diz ele.

Por dia, em todo o mundo, são publicadas 40 milhões de fotos no Instagram, que possui 90 milhões de usuários ativos por mês, segundo dados recentes da empresa (que não revela números do Brasil).
Reprodução/Instagram
Montagem com fotos retiradas do Instagram de Rafael Noris, Beatriz Machado, Heloísa Rocha e Amanda Inácio
Montagem com fotos retiradas do Instagram de Rafael Noris, Beatriz Machado, Heloísa Rocha e Amanda Inácio
No próximo mês, chega ao mercado a câmera sueca Memoto, que tira uma foto a cada 30 segundos. A novidade tem quase 3 cm, GPS embutido, pode ser presa à roupa e dispara sozinha, sem necessidade de comando. A bateria dura até 48 horas.

"Hoje, fotografamos mais do que nunca, mas temos dificuldade em organizar as imagens. Com a Memoto dá para saber quando e onde foram feitas todas as fotos", disse à Folha o sueco Oskar Kalmaru, um dos criadores do produto. A câmera custa U$ 279 (R$ 554) e já foi encomendada por 2.800 pessoas.

Para o fotógrafo Carlos Recuero, professor da UCPel (Universidade Católica de Pelotas) e pesquisador do tema, os álbuns virtuais têm a mesma função dos antigos álbuns de papel. A diferença (e o que motiva mais a mania) é a repercussão. "Não é mais preciso esperar as visitas em casa para mostrar as fotos", diz.

Essa banalização de cliques é positiva, na visão de Wagner Souza e Silva, fotógrafo e professor da USP.

"A fotografia data de 1839, mas acho que está sendo descoberta agora. Fotografar está deixando de ser documentar grandes fatos. Pequenas histórias do dia a dia passam a ter valor informativo. Isso não pode ser desprezado."

Para Andréa Jotta, psicóloga do Núcleo de Pesquisa de Psicologia em Informática da PUC-SP, o hábito pode ser prejudicial quando registrar fica mais importante do que aproveitar a experiência. "O estímulo para fotografar não deve ser só exibir a imagem. Ninguém precisa acompanhar sua vida amiúde. Nesse caso, nem você está acompanhando-a de verdade."

RETRATO DE FAMÍLIA

Das últimas cem fotos publicadas pelo analista de redes sociais Rafael Noris, 43 são do filho Miguel, 2, retratado em um blog desde seu nascimento. "Tento não ser monotemático", afirma Rafael, 23, fundador do grupo Instagramers Campinas, que reúne usuários do aplicativo para encontros de fotografia na cidade. Há 300 grupos desses ao redor do mundo.
Avener Prado/Folhapress
Rafael Noris, 23, e seu filho Miguel, 2, em Campinas
Rafael Noris, 23, e seu filho Miguel, 2, em Campinas
"O que gosto no Instagram é a possibilidade de ver as coisas com os olhos de outra pessoa", diz ele.

Mas, às vezes, ver as aventuras alheias pode não ser bom. Estudo recente da Universidade Humboldt e da Universidade Técnica de Darmastadt, na Alemanha, feito com 600 pessoas, apontou que um em cada três entrevistados se sentia insatisfeito com a própria vida depois de acessar o Facebook.

ENQUETE

Que tipo de "instachato" você é?
  1. Fashionista - sempre publica o "look do dia".
  2. Bicuda(o) - sempre publica uma foto fazendo "biquinho", "ombrinho" ou mandando beijo.
  3. Malhado(a) - sempre posta uma foto na academia ou do seu corpinho malhado sob o título "treininho de leve".
  4. Felícia(o) - sempre posta fotos dos animais de estimação e/ou dos filhos.
  5. Narcisita - sempre posta várias fotos de si mesmo, geralmente na mesma pose.
  6. Baladeiro(a) - só posta foto de balada, como se a sua vida fosse uma festa constante.
  7. Cozinheiro(a) - só posta foto de comida.
  8. Turista - um "clássico".
  9. Louco da hashtag - posta "milhões" de hashtags em cada foto.
  10. Outra opção: ...


3 comentários:

  1. Eu acho que vivemos hiperconectados e isso náo é saudável. Vivemos na época digital e devemos aproveitar suas vantagens, mas de maneira razoável.

    Algunas pessoas abrem a mão da sua privacidade en troca de um afago na cabeça, talvez intentem tornar mais ricas as suas vidas deste modo.

    Muitas pessoas procuram repercussão da sua vida porque precisam da aprovação dos outros para se sentirem felizes, contudo a própria pessoa só exerce domínio da sua vida quando faz o que ela acha adequado, não o que otros encontram apropriado. Eu sei com certeza que é complicado, porém é a única forma de se tornarem felizes.

    Pequenas histórias do dia a dia deveriam ficar privativas o para poucos amigos, já que os amigos íntimos não podem ser quinhentos nem cem.

    Eu concordo con Andréa Jotta e acho que muitas pessoas não aproveitam a experiência por quererem registrá-la, no entanto o mais expressivo é o momento. Na verdade, os filósofos dizem que só existe o presente. Carpe diem!

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  2. Pessoalmente, não sou desse tipo de pessoas que publicam cada segundo da sua vida nas redes sociais. Acho chato acessar o Facebook e ver trinta fotos da mesma pessoa…Já conhecí alguma pessoa que visitou Paris, tirou uma foto lindísima da entrada do Louvre e depois nem entrou! Ás vezes se publicam coisas que não refletem a realidade.
    È interessante que as pessoas gostem da fotografía. Algumas aplicações tais como Instagram ou FxCamera facilitam esse hobby, mas não é preciso fazer públicas todas nossas aventurinhas. Aliás, nem sempre é bom expor em grande medida a vida, pois pode-se tornar perigoso ou comprometido.

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  3. Como toas as coisas, as redes sociais podem ser muito úteis se não abusamos do seu uso.
    Poder compartilhar dum jeito tão fácil momentos felizes e importantes das nossas vidas com amigos e familiares é um grande avanço. Também é útil para dar a conhecer nosso trabalho (são varias as historias de cantores famosos que começaram subindo vídeos nas redes sociais). Além disso, há pessoas no Instagram (como a fotógrafa espanhola Susana Blasco) que começaram a fazer arte seguindo as normas de formato e de cores que a rede social impõe.
    Mas o abuso destas redes e a sobrexposição em elas pode ser perigoso. Já aconteceram roubos em casas enquanto seus proprietários tiravam ferias na praia porque os ladrões conheceram este fato por as fotos que as vítimas do roubo compartilhavam nas redes sociais.

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