quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Quanto custa um filho?


27/02/2013 - 08h30

Criar um filho até os 23 anos no Brasil custa até R$ 2 milhões

DO "AGORA"
DE SÃO PAULO
FolhainvestAtualizado às 12h13.
Nos primeiros 23 anos anos de vida de um filho, os pais brasileiros chegam a gastar até R$ 2.086.602 para custear despesas como educação, lazer, saúde e vestuário.

Somente a fatia relacionada aos estudos em todo esse período de crescimento representa 34% desse total, o equivalente a R$ 703.644, segundo pesquisa feita pelo Invent (Instituto Nacional de Vendas e Trade Marketing).


A pesquisa faz cálculos para quatro classes sociais: A (renda maior que R$ 25 mil por mês), B (de R$ 6.000 a R$ 25 mil), C (de R$ 2.000 a R$ 5.999) e D (menos de R$ 2.000) --veja a tabela abaixo.

Os dados apontam que os gastos crescem com a idade. Até os quatro anos, por exemplo, o custo/ano vão até R$ 63 mil --dos 20 aos 23 anos chega a R$ 122 mil.

Para o presidente do Invent e responsável pela pesquisa, Adriano Maluf Amui, vale mais a pena usar da melhor maneira possível o que se tem no bolso e construir
uma família organizadamente do que viver de altos e baixos financeiramente.

"Planejar não significa adotar uma postura radical e inflexível, como muitos pensam. Um exemplo simples de planejamento é: se você investir R$ 100 por mês desde
o nascimento do seu filho em um investimento que renda 10% ao ano, aos 18 anos terá poupança de R$ 57.670", afirma.

LAZER CUSTA R$ 421 MIL

Os gastos com o lazer dos filhos (como cinema, clubes, festas de aniversário e viagens) podem chegar a R$ 421 mil em 23 anos, segundo a pesquisa. Esse valor é
para a classe A.

As classes B e C gastariam bem menos com lazer (R$ 94,8 mil e R$ 38,8 mil, respectivamente), de acordo com a pesquisa. A classe D reservaria valor mínimo para o lazer dos filhos: R$ 4.800 durante os 23 anos.
Editoria de arte/Folhapress

DO BERÇO

Quando o assunto é a chegada de um bebê na família, o que os pais costumam elencar primeiro são itens como berço, trocador, carrinho, mamadeira e enxoval. Mas gastos com parto, babá, pediatra, vacinas e até o aumento nas contas da casa devem entrar nessa lista.

Os gastos da família durante a gestação sobem de 20% a 30%, em média, segundo o educador financeiro Reinaldo Domingos. E só aumentam durante os anos seguintes ao nascimento.

Para evitar problemas no orçamento, nove meses não bastam. Consultores sugerem se planejar com cerca de dois anos de antecedência e colocar tudo no papel para fugir do endividamento.

Para essa fase, o educador financeiro Mauro Calil recomenda: separe o que é desejo do que é necessidade, fuja das grifes e peça fraldas no chá de bebê.

O planejador Marcos Silvestre acrescenta: pesquise preços em diferentes áreas da cidade e monte uma planilha para, só depois, comprar.

Além disso, é preciso contar com os gastos do acompanhamento médico e com as despesas do parto, que chega a custar cerca de R$ 15 mil, segundo Calil.
Editoria de arte/Folhapress

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Guarda Compartilhada e Paternidade Responsável



Pratique
  1. O que é a guarda compartilhada?
  2. O que tem mudado na vida dos casais separados com relação à custódia dos filhos?
  3. O que é a paternidade responsável e a alienação parental?
  4. O que você acha que deve ser feito para evitar que a separação dos pais não seja traumática para os filhos?
  5. O que quer dizer o lema "pais se separam, filhos não"?

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Políticos suecos sem "mordomia" (Partes 1, 2 e 3)

  1. O que são os apartamentos funcionais e como é vida dos deputados federais nesses lugares?
  2. Como era a vida dos deputados até a década de 90?
  3. Como é a moradia do Primeiro Ministro?
  4. O que o cidadão entrevistado pensa sobre as mordomias políticas?
  5. Em comparação com o seu país, o que você opina sobre o tema?


  1. Como são as condições de vida dos prefeitos, governadores, deputados estaduais e vereados da Suécia?
  2. Como é a vida dos 2 políticos que aparecem no vídeo?
  3. Como são tratados os gastos com viagens?
  4. Há imunidade política na Suécia? O que você opina sobre isso?
  5. O que foi o caso Toblerone?
  6. Em comparação com o seu país, o que você opina sobre o tema?


  1. O que é a lei da transparência sueca? Cite exemplos.
  2. O que o cidadão pode verificar na Sede do Registro Central do Governo?
  3. O que você opina sobre a transparência política do seu país?

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Interculturalidade. Você sabe o que é?

   Divulgação
INTERCULTURALIDADE
"No Brasil, acredito, vocês têm uma identidade nacional, mas também existem claras divisões regionais e identidades locais.
Isso sem contar as identidades étnicas. No fim, os brasileiros não são nem só brasileiros nem são também só nordestinos ou sulistas; eles são tudo isso ao mesmo tempo. As identidades regionais e a nacional não se sobrepõem ou se anulam;
vocês são todas essas identidades." Fonte: Revista Época
Vivemos em um mundo cada dia mais conectado e em que as pessoas estão cada vez mais em contato umas com as outras. A afirmação já é tão disseminada que virou praticamente um clichê. Apesar disso, pouca gente sabe que essa nova realidade virou objeto de estudo e acabou criando um novo campo teórico. Assim como a sociologia e a antropolgia, o interculturalismo estuda as culturas dos povos, mas se diferencia de ambas essas áreas por propor uma análise do ponto de vista da interação entre as pessoas.
“A Comunicação Intercultural é uma evolução da Teoria da Comunicação para um contexto mais global; defende que as pessoas precisam primeiro entender a si, aprender a dar significado a suas próprias formas de comunicação, para só então poder criar significados que façam sentido para todos os outros”, afirmou, a ÉPOCA, o interculturalista Milton J. Bennett, considerado um dos pais da área e um dos mais importantes estudiosos do tema.
Bennett defende que a aprendizagem intercultural é essencial para que todos convivam em paz no mundo. Segundo ele, devido às diferenças que existem entre todos nós, acabamos por nos eliminar. “Primeiro tentamos converter a pessoa diferente para que seja igual a nós. Infelizmente, porém, se essa conversão falha, a história mostra que o ser humano parte para a saída mais simples, que é eliminar o povo culturalmente diferente”, disse.
Como evitar esse extremo? Bennett diz que a saída é oferecer educação intercultural em todo o mundo, principalmente por meio de programas interculturais altamente capacitados e de institutos e ONGs de ensino da interculturalidade. Além, é claro, de se reforçar a ideia de que, no fundo, somos todos iguais, independentemente de onde nascemos.

ÉPOCA – Qual a importância do interculturalismo para a sociedade moderna?

MILTON J. BENNETT – Temos que voltar um pouco na história desse campo de estudos. No século passado, o canadense Marshall McLuhan criou o termo “aldeia global”. O que ele quis dizer por “aldeia global” certamente não era que todas as pessoas se tornariam iguais umas às outras, mas que pessoas diferentes poderiam estar mais próximas, ter um maior contato. Basicamente ele quis dizer que nós nos tornaríamos todos vizinhos. E foi isso que aconteceu.

Os estudos realizados até hoje para comprovar a existência de uma cultura global não chegaram a nenhuma conclusão - as pessoas estão mantendo firmemente suas visões de mundo e suas culturas próprias, o mundo não está se “globalizando” como as pessoas achavam que o faria. O que acontece é que as pessoas estão interagindo mais umas com as outras. Acredito que esse aspecto seja consistente com aquilo que nós, interculturalistas, defendemos, que é: por causa desse contato maior entre as pessoas, há uma necessidade de melhorarmos a forma como nos expressamos uns com os outros, e principalmente focar naqueles pontos em que falhamos na comunicação entre duas culturas distintas. À medida em que as sociedades tornam-se mais multiculturais, e isso quer dizer que há mais mobilidade entre as pessoas, que há mais movimentos de imigração da população, a comunicação, a linguagem precisa melhorar.

ÉPOCA – Então quer dizer que tudo e todos estão se misturando?

BENNET – Acredito que o Brasil, assim como os Estados Unidos, está passando por um aumento em sua demografia multicultural, mas ninguém hoje defende mais a ideia de um “caldeirão étnico”. A expressão foi cunhada por Israel Zangwill em 1908, que escreveu uma peça para explicar o movimento imigratório de europeus nos Estados Unidos. O texto da peça falava que os imigrantes europeus que iam para os Estados Unidos estavam se misturando, “derretendo” no caldeirão cultural americano, e ajudando a formar uma “superraça” humana, com o melhor das etnias. A ideia ganhou popularidade rapidamente porque dizia, basicamente, que as pessoas estavam perdendo suas raízes étnicas para se tornar algo novo - no caso dos Estados Unidos, se tornariam americanas, quase que renegando suas origens africanas, europeias ou asiáticas. O problema com essa ideia é que isso simplesmente não ocorreu. O que aconteceu com os imigrantes no passado - e continuará a ocorrer com os estrangeiros hoje - é que eles mantiveram suas raízes ao mesmo tempo em que foram capazes de participar da cultura nacional do país. Por isso, hoje, ninguém está mais dizendo que você é capaz de deixar de ser brasileiro e tornar-se um italiano só porque mora na Itália; no caso, o que há é uma espécie de cultura híbrida. Por essa razão, cada vez mais é necessário às pessoas que desenvolvam habilidades interculturais específicas para poder lidar com o diferente e poder viver em sociedade pacificamente.

ÉPOCA – Em que ponto, então, o interculturalismo se difere de outros campos de estudo como a Antropologia e a Sociologia, já que todos estudam as culturas e instituições sociais humanas?

BENNETT – Bom, diferentemente da sociologia ou antropologia, que tendem a ter um olhar mais descritivo, o interculturalismo adota uma postura mais pragmática. Primeiro que nós somos da área da Comunicação, estudamos as formas de comunicação entre diferentes culturas e entre diferentes pessoas. O interculturalismo tenta entender como as pessoas criam sentido para os gestos, ações, palavras e para as outras formas sutis de comunicação e como usam isso para conviver. Estudamos para melhorar a interação entre as pessoas, para que elas se adaptem melhor umas às outras, para que o desentendimento seja diminuído e o entendimento entre duas pessoas diferentes seja melhorado. A Comunicação Intercultural é uma evolução da Teoria da Comunicação para um contexto mais global; defende que as pessoas precisam primeiro entender a si, aprender a dar significado a suas formas de comunicação, para poder criar significados que façam sentido para todos. Em uma situação, por exemplo, em que haja diferenças culturais entre duas pessoas, elas precisam entender quais são essas diferenças para daí saber como elas afetam a comunicação entre si para só então poderem chegar a um ponto em que a comunicação seja eficaz e as duas se entendam.

ÉPOCA – Como um interculturalista define essas diferentes identidades culturais dos povos?

BENNETT – É importante saber que existem três aspectos da identidade cultural. O primeiro é aquele em que a pessoa se enxerga, acima de tudo, como tendo tanto uma identidade cultural quanto uma identidade individual - e tirar a identidade individual de alguém é impossível. O segundo é um nível de análise mais social: nossa identidade cultural é formada pela interação com outras pessoas, e parte de nossa visão de mundo está ligada às nossas crenças e aos valores que nos foram impostos a partir de nossa vivência em uma sociedade, em um grupo coletivo.

Por fim, os interculturalistas defendem que se precisa pensar na identidade cultural das duas formas. Por exemplo, no Brasil, acredito, vocês têm uma identidade nacional - e os brasileiros participam, compartilham do sentimento de uma certa cultura nacional -, mas também existem claras divisões regionais e identidades locais associadas às regiões em que as pessoas vivem. Isso sem contar as identidades étnicas que têm a ver com o pertencimento a um certo grupo com uma certa identidade própria. No fim, os brasileiros não são nem só brasileiros nem são também só nordestinos ou sulistas; eles são tudo isso ao mesmo tempo. As identidades regionais e a nacional não se sobrepõem ou se anulam; eles são todas essas identidades, e elas contribuem para construir sua visão de mundo e definir seus padrões comportamentais.

ÉPOCA – E como se dá a interação entre essas diferentes identidades culturais dos povos?

BENNETT – Primeiro, há sempre tensão entre duas pessoas de culturas diferentes. Em um primeiro momento negamos a existência da diferença e ou queremos convertê-la ou eliminá-la. Após isso, porém, há a aceitação da diferença e o reconhecimento dela. Com isso, há espaço para uma adaptação entre essas duas pessoas e para a integração. Cada vez mais está sendo usado na área o termo “terceira cultura” para definir essa interação. Eu estou tentando me adaptar a você, você está tentando se adaptar a mim, mas nem eu quero ou posso me tornar você e nem você quer ou pode se transformar em mim. Apesar disso, ambos tentamos entender o mundo um do outro, e isso gera um espaço em comum entre nós, que não diz respeito nem à minha cultura e visão de mundo e nem à sua. Isso, esse espaço, está sendo chamado de “terceira cultura”. Mas não se deve esquecer que isso é apenas um conceito dinâmico, portanto não existe, por exemplo, um país com uma terceira cultura; é algo gerado pela tentativa de adaptação entre pessoas.

ÉPOCA – Partindo desse princípio, como um brasileiro, por exemplo, que recebe tantos imigrantes, consegue se adaptar à cultura estrangeira e continuar a funcionar dentro de sua própria sociedade?

BENNETT – Bom, esse é o centro de toda a questão. Por causa do aumento na demografia multicultural em todos os países, nós temos cada dia mais contato com pessoas de criações diferentes e de passados distintos. Gordon Allport, que escreveu o livro The Nature of Prejudice (A natureza do preconceito, sem tradução no Brasil), afirmou há quase meio século que quando você interage com pessoas culturalmente diferentes, e essa interação se dá em um âmbito sócio-econômico relativamente semelhante, há uma diminuição nos estereótipos que criamos do outro. No entanto, na maior parte das situações, essa interação envolve pessoas de classes diferentes, ou seja, com noções de poder diferentes. Isso faz com que queiramos nos segregar do grupo “mais fraco”. E quanto mais as pessoas são alimentadas com essa ideia de suposta superioridade - ou de que, na verdade, os outros é que são simplesmente inferiores -, ou ainda de que a pessoa de outra região está vindo roubar seus empregos, enfim, tudo isso cria estereótipos negativos que podem resultar em agressões. Mas no fundo somos todos iguais.

ÉPOCA – Existe uma forma de evitarmos esses estereótipos negativos?

BENNETT – Bom, podemos falar de um ponto de vista mais filosófico, e esse ponto de vista é que as pessoas podem mudar. Pegue, por exemplo, o homem das cavernas. Somos tão diferentes deles! E a nossa diferença para eles foi construída por atos conscientes de educação: nós ensinamos nossos filhos a fazer aquilo que achamos correto, criamos leis baseados no que acreditamos ser melhor para nossa sociedade... Por mais que o ser humano em si não seja modificável, seu comportamento o é.

O que acontece é que nosso comportamento natural, desde sempre, tem sido o de evitar as diferenças, e isso, infelizmente, pode ser traçado de volta até o mesmo homem das cavernas. Quando nos deparamos com o diferente, tentamos evitá-lo. Em um primeiro momento, tentamos até convertê-lo para que seja igual ao nosso ponto de vista, e aí acreditamos que está tudo bem. Basicamente, queremos que todas as pessoas no mundo sejam como nós, porque, afinal de contas, achamos que nosso ponto de vista é o correto. Infelizmente, porém, se essa conversão falha, a história mostra que o ser humano parte para a saída mais simples, que é eliminar o povo culturalmente diferente - e frequentemente isso acontece das maneiras mais horrendas.

Portanto, o que precisamos fazer é nos afastar dessa tendência natural; precisamos chegar a um ponto em que haja igualdade entre todos e entre diferentes sociedades; um ponto em que pelo menos a tolerância - e veja que não falo nem em apreciação pela diferença, mas na simples tolerância ao diferente - seja a base das relações sociais. Para tanto, precisaríamos de um esforço maior de toda a sociedade, principalmente dos pais, educadores e políticos, para constantemente lembrar-nos e nos ensinar que conviver com pessoas diferentes é bom.

ÉPOCA – Como o senhor analisa o que está acontecendo hoje com a sociedade?

BENNETT – Acredito que, no longo prazo, o que vai mudar é a forma como todos nós agimos. Acredito que estamos todos aprendendo, mas as pessoas ainda precisam desenvolver o que chamamos de “inteligência contextual”. É um termo que foi criado na Faculdade de Negócios de Harvard e que representa a capacidade de uma pessoa de entender o contexto de uma situação - mais do que entender as palavras, saber falar a mesma língua, é entender todo o contexto cultural dessa situação. Quanto mais rápido todos conseguirem reconhecer esse contexto, e quanto mais rápido conseguirem mover-se por contextos diferentes, mais fácil é a comunicação entre as pessoas. No campo intercultural, esse tipo de inteligência contextual é chamado de “competência intercultural”, e é exatamente essa competência que as pessoas precisam desenvolver para poderem se comunicar em um mundo cada dia mais conectado.

ÉPOCA – Como isso tudo pode ser feito?

BENNETT – Uma excelente oportunidade para desenvolver essa competência e as habilidades de um interculturalista é estudar fora ou morar um período no exterior ou em uma região diferente. Isso sozinho, porém, não é suficiente. Tipicamente, o que acontece é que as pessoas que planejam estudar fora são mal preparadas - se é que recebem algum preparo. A única coisa que se faz hoje, pela maior parte dos organizadores de tais viagens, é dizer às pessoas “aqui estão algumas informações sobre o seu país de destino”, mas isso está errado e não funciona. A alternativa que os interculturalistas recomendam é preparar essas pessoas com estratégias que lhes ajudem a desenvolver sua inteligência contextual, de forma que elas possam reconhecer as diferenças culturais e aprendam com isso. Mais do que saber que franceses gostam de queijo e vinho, é importante que a pessoa aprenda a adotar uma postura de análise intercultural frente a esses franceses e entenda por que eles gostam de queijo e vinho.

Também é importante que, durante a estadia no exterior, essa pessoa tenha um acompanhamento de perto, algo que chamamos de ensino facilitado. Eles são ajudados a entender suas próprias culturas para daí conseguirem enxergar onde estão as diferenças entre seus pontos de vista e os pontos de vista das outras pessoas. Esse tipo de aprendizagem intercultural deve ser facilitado durante a experiência; não adianta ser feito antes e nem depois. Por fim, há que haver um processo de retorno, que é quando a pessoa volta ao seu país, ao seu cenário cultural e precisa pôr em prática aquilo que aprendeu e se readaptar à sua realidade.

O nosso cotidiano na web.


12/02/2013 - 05h00

Aplicativos e câmeras da moda incentivam 'hiperdocumentação' do cotidiano na web

GIULIANA DE TOLEDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Você sabe o que seus amigos fizeram no verão passado -- e neste também. É só entrar em qualquer rede social para ser bombardeado por dias ensolarados, asas de avião e drinques na praia.


O hábito de registrar tudo --das férias à ida ao restaurante-- ganhou força com a popularização dos smartphones e de aplicativos que "filtram" e dão mais cores à realidade. É a "hiperdocumentação" do cotidiano.

O que motiva os "instagramers" (usuários da rede social de compartilhamento de imagens) é o desejo de ser valorizado socialmente, segundo o psicólogo Cristiano Nabuco, do Hospital das Clínicas de São Paulo. "As pessoas abrem mão da sua privacidade em troca de um afago na cabeça, que é representado pelo curtir", diz ele.

Por dia, em todo o mundo, são publicadas 40 milhões de fotos no Instagram, que possui 90 milhões de usuários ativos por mês, segundo dados recentes da empresa (que não revela números do Brasil).
Reprodução/Instagram
Montagem com fotos retiradas do Instagram de Rafael Noris, Beatriz Machado, Heloísa Rocha e Amanda Inácio
Montagem com fotos retiradas do Instagram de Rafael Noris, Beatriz Machado, Heloísa Rocha e Amanda Inácio
No próximo mês, chega ao mercado a câmera sueca Memoto, que tira uma foto a cada 30 segundos. A novidade tem quase 3 cm, GPS embutido, pode ser presa à roupa e dispara sozinha, sem necessidade de comando. A bateria dura até 48 horas.

"Hoje, fotografamos mais do que nunca, mas temos dificuldade em organizar as imagens. Com a Memoto dá para saber quando e onde foram feitas todas as fotos", disse à Folha o sueco Oskar Kalmaru, um dos criadores do produto. A câmera custa U$ 279 (R$ 554) e já foi encomendada por 2.800 pessoas.

Para o fotógrafo Carlos Recuero, professor da UCPel (Universidade Católica de Pelotas) e pesquisador do tema, os álbuns virtuais têm a mesma função dos antigos álbuns de papel. A diferença (e o que motiva mais a mania) é a repercussão. "Não é mais preciso esperar as visitas em casa para mostrar as fotos", diz.

Essa banalização de cliques é positiva, na visão de Wagner Souza e Silva, fotógrafo e professor da USP.

"A fotografia data de 1839, mas acho que está sendo descoberta agora. Fotografar está deixando de ser documentar grandes fatos. Pequenas histórias do dia a dia passam a ter valor informativo. Isso não pode ser desprezado."

Para Andréa Jotta, psicóloga do Núcleo de Pesquisa de Psicologia em Informática da PUC-SP, o hábito pode ser prejudicial quando registrar fica mais importante do que aproveitar a experiência. "O estímulo para fotografar não deve ser só exibir a imagem. Ninguém precisa acompanhar sua vida amiúde. Nesse caso, nem você está acompanhando-a de verdade."

RETRATO DE FAMÍLIA

Das últimas cem fotos publicadas pelo analista de redes sociais Rafael Noris, 43 são do filho Miguel, 2, retratado em um blog desde seu nascimento. "Tento não ser monotemático", afirma Rafael, 23, fundador do grupo Instagramers Campinas, que reúne usuários do aplicativo para encontros de fotografia na cidade. Há 300 grupos desses ao redor do mundo.
Avener Prado/Folhapress
Rafael Noris, 23, e seu filho Miguel, 2, em Campinas
Rafael Noris, 23, e seu filho Miguel, 2, em Campinas
"O que gosto no Instagram é a possibilidade de ver as coisas com os olhos de outra pessoa", diz ele.

Mas, às vezes, ver as aventuras alheias pode não ser bom. Estudo recente da Universidade Humboldt e da Universidade Técnica de Darmastadt, na Alemanha, feito com 600 pessoas, apontou que um em cada três entrevistados se sentia insatisfeito com a própria vida depois de acessar o Facebook.

ENQUETE

Que tipo de "instachato" você é?
  1. Fashionista - sempre publica o "look do dia".
  2. Bicuda(o) - sempre publica uma foto fazendo "biquinho", "ombrinho" ou mandando beijo.
  3. Malhado(a) - sempre posta uma foto na academia ou do seu corpinho malhado sob o título "treininho de leve".
  4. Felícia(o) - sempre posta fotos dos animais de estimação e/ou dos filhos.
  5. Narcisita - sempre posta várias fotos de si mesmo, geralmente na mesma pose.
  6. Baladeiro(a) - só posta foto de balada, como se a sua vida fosse uma festa constante.
  7. Cozinheiro(a) - só posta foto de comida.
  8. Turista - um "clássico".
  9. Louco da hashtag - posta "milhões" de hashtags em cada foto.
  10. Outra opção: ...


Como curar a "ressaca".

13/02/2013 - 07h10

Teste avalia métodos de cura da ressaca


PRISCILA PASTRE
DE SÃO PAULO

A experiência começou na noite anterior, em um bar. A ideia era que os participantes bebessem até que esta repórter -a única que não ingeriu nada alcoólico- avaliasse que todos tinham atingido razoável grau de embriaguez.

Na última sexta-feira, quatro jornalistas da Folha avaliaram métodos antirressaca: dois recomendados por um médico e dois que são popularmente adotados, mas não há comprovação científica de que funcionem.

Avener Prado/Folhapress
Primeiro brinde dos participantes que testaram receitas contra ressaca
O brinde dos participantes que testaram receitas contra ressaca

Antes da ida ao bar, a reportagem pediu orientações ao hepatologista Fernando Pandullo, do hospital Albert Einstein. Após a experiência, ele foi novamente consultado para explicar como o organismo de cada um reagiu aos métodos adotados.

DURANTE A NOITE

Algumas reações dariam a pista de que as doses de cachaça e os copos de caipirinha, caju-amigo, daiquiri, gim-tônica, margarita e mojito já surtiam efeito: entre elas, risada fácil, desinibição e idas seguidas ao banheiro.
Ninguém tomou nenhum tipo de remédio nem antes nem depois do teste. Tampouco foram tomadas precauções, como alternar os drinques com água e não misturar bebidas diferentes.

Para que ninguém "desanimasse", foram servidos petiscos gordurosos, como porções de pastéis e de queijos. "Enquanto as pessoas estão bebendo, a gordura faz com que o álcool seja absorvido numa velocidade menor, o que leva a beber por mais tempo", diz Pandullo.
A "botecagem" seguiu das 20h30 à 1h. Neste horário, todos mostravam sinais de embriaguez. E o combinado era que eles descansariam por sete horas antes de testar os "antídotos" contra a ressaca.

NA MANHÃ SEGUINTE

Às 9h30 da sexta, todos estávamos juntos de novo. Dessa vez, para testar os métodos contra a ressaca recomendados pelo médico (suco de fruta e água de coco) e os desaconselhados, mas que são popularmente difundidos (chá de boldo e refrigerante).
Foi definido por sorteio quem tomaria cada "antídoto". O mais eficaz foi a água de coco, que ajudou a aliviar a desidratação produzida pelo álcool e a desintoxicar.

O suco de fruta não deu o efeito esperado porque o abacaxi estava ácido. O refrigerante e o chá de boldo, como já havia sido alertado pelo médico, pioraram a situação.

"ÁGUA DE COCO ME HIDRATOU E REDUZIU O ENJOO"

"Uma dose de cachaça, duas caipirinhas, um drinque com vodca e outro com rum foram os responsáveis pela minha ressaca.

Para o alívio da minha sede sem-fim, o 'antídoto' que testei foi a água de coco. Antes de tomá-la, sentia calafrios só em pensar em ingerir qualquer coisa, mas a água de coco me caiu bem.

Cerca de 40 minutos depois, eu me sentia melhor. A dor de cabeça persistiu, enquanto a náusea deu uma trégua -o que abriu o meu apetite. Comi uma porção de ovos mexidos e um pão na chapa. Matei a fome, mas o enjoo voltou. O remédio foi voltar para a cama."

O QUE O MÉDICO DIZ

"A água tem um pouco de açúcar, o que ajuda o fígado a metabolizar mais rapidamente as substâncias tóxicas. Ela tem minerais e potássio, que aliviam a desidratação que o álcool produz.

A dor de cabeça persistiu porque a água de coco não tem efeito na toxicidade do acetaldeído, que provoca a dor de cabeça.

O enjoo voltou quando ela comeu a omelete por causa da gema, que é gordurosa. Ingerir coisas gordurosas durante a ressaca é ruim porque sobrecarrega o fígado."

"TOMAR CHÁ DE BOLDO SÓ PIOROU O MEU ESTADO"

"Três daiquiris, duas caipirinhas e um mojito. Esse foi o saldo da noite etílico-jornalística. Para tentar amenizar a ressaca, o 'antídoto' que recebi por sorteio foi o chá de boldo.
A ideia de tomar um chazinho no dia seguinte não me pareceu má: a sensação de ingerir uma bebida morna soava agradável.

Por ser uma dica popularmente difundida, botei fé. Mas, xícaras e xícaras depois, a sensação de enjoo só aumentava. Tive um único sintoma e o chá não foi capaz de curá-lo."

O QUE O MÉDICO DIZ

"O chá de boldo não é recomendado em nenhuma situação. Ele afeta o fígado e, na ressaca, piora o quadro de gastrite. Prova de que receitas populares nem sempre funcionam.

A sensação de que uma bebida morna daria certo conforto é relevante. Se ela tivesse trocado o boldo por erva-doce ou camomila, um chá poderia ter ajudado. Mas teria de ser morno mesmo. Não quente.

Algo gelado é mais indicado: um sorvete de frutas -que não seja muito gorduroso nem de fruta ácida. Uma boa opção é o sorvete de coco, de palito. O gelado alivia a inflamação e atua como analgésico. E seria uma forma de começar a se alimentar."

Editoria de Arte/Folhapress
"TOMAR REFRIGERANTE AGRAVOU A SENSAÇÃO DE NÁUSEA E GASTRITE"

"Se era para ter uma verdadeira ressaca, cumpri o combinado. Após cinco drinques -a maioria com gim- e algumas doses de cachaça, a madrugada deu seu recado.

No dia seguinte, um refrigerante tentaria me salvar da indisposição matinal. Até imaginei que a injeção de açúcar e cafeína levantariam o ânimo, mas a apatia parecia ser irrecuperável.

Cerca de 40 minutos depois, duas garfadas em ovos mexidos fizeram com que eu voltasse a ficar enjoado. Precisei dormir um pouco.

A vida é mesmo irônica. Minha mulher está grávida e sou eu quem passa mal."

O QUE O MÉDICO DIZ

"Ele teve uma intoxicação aguda, provavelmente por ter bebido mais e misturado mais drinques que os outros. O refrigerante só piorou as coisas porque o gás distende o estômago, piora o enjoo e a gastrite.

No lugar do refrigerante, deveria ter tomado um suco de fruta. No lugar da omelete, gordurosa por causa da gema, uma canja", diz o hepatologista Fernando Pandullo.

"SUCO DE ABACAXI COM HORTELÃ ME DEIXOU AINDA MAIS INDISPOSTA"

"No dia seguinte a um caju-amigo, um daiquiri, duas margaritas e uma bebida com licor de café, tive dor de estômago, enjoo e dor de cabeça.

Meu remédio natural contra ressaca foram dois copos de suco de abacaxi com hortelã. O método não pareceu ruim.

Num primeiro momento, atenuou a sonolência e a vontade de correr de volta para a cama -e lá permanecer.

Mas, depois de quase uma hora, senti uma forte irritação estomacal, que se associou ao enjoo e formou um bloco único de desconforto pós-ressaca. Não só meu 'antídoto' não foi eficiente, como piorou meu estado."

O QUE O MÉDICO DIZ

"Apostar em sucos de fruta durante a ressaca funciona. Provavelmente não deu certo porque o abacaxi usado no suco estava muito ácido.

Se estivesse mais maduro, mais doce, ajudaria. Melhor substituir frutas ácidas por melão, melancia ou manga. Para a dor de cabeça, não havia saída: ela é alérgica a dipirona, o analgésico recomendado para quadros de ressaca."