quinta-feira, 9 de abril de 2015

O poder dos ídolos

O poder dos ídolos

Como pessoas bem-sucedidas em qualquer área de atuação influenciam e podem provocar mudanças na vida de seus admiradores

                                                   FONTE: REVISTA ISTO É - N° EDIÇÃO:  2064 |  03.JUN.09

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Um ídolo é capaz de arrebatar multidões. E não há no Brasil de hoje ninguém melhor do que o jogador Ronaldo para exemplificar a paixão que essas pessoas despertam nos fãs. Depois de um doloroso período de recuperação por causa de problemas no joelho, que incluiu dificuldade para perder peso e até uma saia justa num episódio que envolvia travestis, ele alcançou a redenção.

Desde o Santos de Pelé, e lá se vão décadas, não se viam torcedores de times rivais acompanhando jogos para admirar a performance de um atleta. Já no primeiro gol pelo Corinthians, em março, o Fenômeno silenciou os que anunciavam sua aposentadoria precoce e retomou seu lugar no coração dos brasileiros, graças a uma combinação de fatores como dedicação ao trabalho, perseverança e perfeccionismo. Todas essas características já existiam antes de ele se machucar.

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Elas lapidaram seu talento, lhe conferiram carisma e o levaram a alcançar um patamar social no qual nada é impossível financeiramente. Somadas à capacidade de superação, comprovada durante seu calvário, elas transformaram o jogador em fonte de inspiração para aquilo que as pessoas costumam desejar para suas próprias vidas. Está pronta a receita do ídolo: assim como Ronaldo, eles têm uma legião de admiradores porque fazem as pessoas acreditarem mais em si mesmas.

A Ronaldomania prova o poder do ídolo. "A celebridade é admirada por provocar entusiasmo e trazer o novo para a vida das pessoas", explica a psicóloga Denise Gimenez Ramos, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Talvez por isso haja quem observe com lupa as realizações dos famosos. Uma pesquisa da Pew Research Center, divulgada no ano passado, mostrou que um em cada três americanos acompanha com assiduidade o programa "American Idol", que dá aos candidatos uma oportunidade no mundo da música.

Aos que torcem o nariz para essa atitude dos fãs, o antropólogo Francesco Gill-White, da Universidade da Pensilvânia, diz que é natural prestar atenção em indivíduos que são notícia. "Faz sentido qualificar as pessoas pelo grau de sucesso que conquistaram dentro dos valores almejados."
Para o psiquiatra Rafael Boechat, pesquisador do Laboratório de Neurociências e do Comportamento da Universidade de Brasília (UnB), se espelhar em alguém com feitos positivos e querer ser bom em algo é saudável. No caso de Ronaldo, é forte o enredo de magia do garoto que morou na favela até a adolescência, com vinte e poucos anos estava milionário e agora é um homem que confirma seu sucesso após ultrapassar obstáculos. "Ele mostra que o humilde tem uma chance", diz Boechat.

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SONHO DAS MENINAS Gisele Bündchen é exemplo para jovens que desejam triunfar como modelo

A top model Gisele Bündchen também se encaixa nesse perfil. Veio de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul e antes dos 20 anos já era milionária. Ela é ídolo de milhares de garotas que sonham com a passarela. Idolatrar profissionais de destaque em suas respectivas áreas é um comportamento comum à humanidade, em todas as culturas. O ídolo de hoje é o herói de ontem, diz Denise. "No passado, os guerreiros que defendiam as nações eram os idolatrados, trazendo conquistas para a sociedade."

O herói contemporâneo dos brasileiros foi o piloto Ayrton Senna. Três vezes campeão mundial de Fórmula 1, o esportista morreu em um acidente no Grande Prêmio de San Marino, em 1994, aos 34 anos. Era conhecido pelo talento excepcional, pela disciplina e dedicação ao automobilismo. "Senna mostrava que era possível vencer os europeus poderosos", afirma Denise. "Ele resgatava a autoestima do País quando levantava a bandeira." Outros brasileiros são referência em suas áreas de atuação e conquistam a admiração da sociedade, mesmo sem atuar sob os holofotes.

O arquiteto Oscar Niemeyer, criador do estilo que permite ao concreto ganhar curvas, é um ídolo entre seus pares.
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INOVADOR E INCANSÁVEL Niemeyer é o mestre das curvas e do concreto


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"A arquitetura de Niemeyer é sensual, com beleza funcional e economia de espaço", diz o arquiteto Marcio Mazza, vice-presidente da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura em São Paulo, ele mesmo um fã, que se encantou pela arquitetura ainda menino justamente quando conheceu as construções do Parque do Ibirapuera, de autoria do mestre. Incansável, ele produz ainda hoje, aos 101 anos. Lançou na quarta-feira 27, no Rio de Janeiro, o livro "Oscar Niemeyer, 1999-2009", com seus projetos mais recentes.

O cardiologista Adib Jatene também é admirado por sua biografia. Respeito que transcende seus pares. Foi assistente de Euryclides Zerbini, que comandou o primeiro transplante de coração do Brasil, trabalhou nos principais institutos de cardiologia, foi ministro da Saúde e secretário estadual de Saúde de São Paulo. Implantou técnicas cirúrgicas que mudaram os rumos de sua área, como a correção das artérias aorta e pulmonar em bebês que nascem com esse sistema invertido (o que prejudica a oxigenação do cérebro e leva à morte). Hoje, é diretor-geral do Hospital do Coração, em São Paulo.

"Ele é perseverante, tem caráter, além de ser uma pessoa simples", diz o cardiologista Ari Timerman, presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo. À frente da multinacional AmBev, o empresário Jorge Paulo Lemann é admirado não só por ser um bilionário que construiu sua fortuna graças a jogadas de mestre. Mas por reservar parte de seu tempo às fundações Estudar e Lemann, instituições que distribuem bolsas de estudo e têm projetos para melhorar a educação brasileira. Os amigos dizem que é um líder nato.

Uma tendência que se fortalecerá nos próximos anos é a dos novos ídolos, aqueles que construíram o sucesso aos poucos, não de forma instantânea - o que tornaria a ideia de ascensão uma realidade para um número maior de pessoas. "É vencer por merecimento, com estudo, trabalho", diz o psiquiatra Boechat.

"Não do dia para a noite, como os reality shows fazem acreditar." O presidente americano Barack Obama é o expoente do novo ídolo que teve que batalhar para chegar onde está. Obama, na verdade, ainda é um fenômeno. A história dirá se ele será uma referência tão importante, especialmente para os negros, como foi o ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela, principal representante do movimento anti-apartheid, que deu fim à segregação naquele país.

Há, no entanto, limites para a admiração por alguém. "Por trás dessa fascinação pode existir um sentimento de derrota no mundo real", diz o filósofo Clóvis de Barros Filho, professor de ética da Universidade de São Paulo (USP) e da Casa do Saber. "O ídolo oferece uma compensação a quem se sente fracassado, tem baixa autoestima." O fanatismo é um risco, diz a psicóloga Denise.

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FENÔMENO DE PÚBLICO Ronaldo volta a ser idolatrado pela torcida

"Conhecer ao máximo o outro para preencher a própria vida é patológico. Precisa de terapia." Para o ídolo os excessos dos fãs também podem trazer problemas. Afinal, ele é visto como um ser perfeito. Por isso, há pressão para que nunca erre ou desaponte. E esse é o desafio de Ronaldo agora. Saber que voltou ao topo. Mas entender que equilíbrio é fundamental, caso as dificuldades apareçam novamente.

5 comentários:

  1. A palavra ídolo sempre me lembrou a uma adoração irracional da cual acho que temos de fugir. Talvez nossa sociedade precisa ter imagens de pessoas bem sucedidas no mundo profissional ou endinheirados que têm uma boa vida. Na minha opinião prefiro as pessoas correntes que aos ídolos, gente que vive de acordo com uns valores morais e que procuram melhorar a vida da humanidade sem ter necessidade de muitas coisas materiais e de uma fama desmedida. Se tivesse que admirar a alguém me sentiria mais perto dos hérois que dos ídolos, sendo os primeiros os homens e mulheres que travalham todos os dias para esforçar-se em conseguir uma sociedade melhor.
    Juanjo

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  2. Acho que os ídolos, as pessoas famosas ou bem-sucedidas, podem influenciar a vida de outras de forma positiva, mas também de forma negativa.

    Os ídolos podem fazer que as pessoas acreditem mais em si mesmas. Um ídolo pode ser o reflexo do que a pessoa visa ser e, querer ser bom em algo, segundo o psiquiatra Rafael Boechat,é saudável.

    Mesmo assim, idolatrar profissionais de destaque por causa da sua riqueza ou sua beleza (por exemplo uma top model), não é uma boa influencia, especialmente para as crianças.

    Se uma pessoa fizer um grande sucesso para a humanidade (por exemplo, Nelson Mandela ou o cardiologista do que se fala no artigo, Adib Jatene) será um bom ídolo e uma boa referência a seguir.

    Ser perseverante e simples são qualidades as quais devem existir em qualquer ídolo.

    Paula Sánchez Carretero

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  3. Do meu ponto de vista ter um ídolo pode ser positivo. Seja por seu carisma, sucesso ou capacidade de superação, o ídolo será fonte de inspiração. Sem dúvida dispor de um bom modelo ajuda a encarar os problemas e marcar desafios. Não é preciso procurar ídolos famosos, milionários nem heróis. Somente encontrar uma pessoa que sirva de referência.

    Fixar o olhar em grandes ídolos pode ser perigroso. O risco é que a fascinação pelo ídolo, consequência da magia que o envolve, faça esquecer os próprios desafios, as aspirações que estão ao alcance das mãos, caindo no erro de viver a vida de outro. Por isso, é importante sonhar, mas também curtir as coias boas e simples que a vida oferece.

    Mónica Duperier

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  4. Consideramos a influência de poder dos ídolos como um problema. Nós perguntamos: As imagens de pessoas famosas ou muito conhecidas, que estão a transmitir ao público, para a nossa sociedade? Celebridades são uma referência de fama, beleza e dinheiro que representam o que queremos ser ou ter. Nestes dias as celebridades são consideradas caracteres que não transmitem valores, portanto, que não nos deixam algo para acrescentar nossa vida, distorcendo o conceito de pessoa exemplar.

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  5. Admirar é um sentimento que faz parte da condição humana. Nós admiramos outras pessoas, seja para obter inspiração para desenvolver-nos na vida, seja para reforçar nossos planes de futuro ou nossas ideias e pontos de vista. Como todo sentimento, quando este se expressa radicalmente, existem consequências negativas. Os ídolos são de carne e osso, e é preciso aprofundar nos processos que estas pessoas experimentaram e não somente observar os resultados com sucesso. A maior fonte de aprendizagem é fracassar para poder crescer.
    O maior perigo que os fãs têm é se limitar aos sucessos rápidos dos ídolos que se mostram na internet, nas redes sociais, etc. Nestes médios, somente pode-se observar situações idílicas, e a vida é complicada e difícil....os processos marcam as pessoas.
    Ana Amor

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